domingo, 28 de junho de 2009

Veto da Lei de Imprensa

A MORTE DO BOM SENSO (ENTRE OUTRAS MAZELAS...)

Infelizes dos sujeitos que rasgaram o bom senso e o jogaram ao léu. Só pra constar, um colega de trabalho que cursa Letras me jogou uma conclusão muito da ruim naquele ambiente, do tipo “agora seu curso não vale de nada, pois até eu mesmo posso ser jornalista”. Ao passo de eu responder: “ok, tenta a sorte”.

Mais do que nunca, o veto da Lei de Imprensa tornou-se um tiro no pé da democracia. Sim, por enquanto só no pé, porque há esperanças de dias melhores por vir, a partir do momento em que houver bom senso e pressão de outras instâncias jornalísticas. Caso contrário, fuzila-se a democracia e joga-se no lixo um profissionalismo de excelência acadêmica, dando margem aos charlatanismos e tecnicismos absurdos e de linguagem nada popular. Afinal de contas, o jornalista hoje é o grande intermediador entre a ciência e a linguagem do povo.

Imaginem a supressão das editorias: agora, a Economia ficará com economistas, o caderno de Informática com analistas de sistema, Cultura com os atores da Malhação, Esportes com jogadores de futebol... Sem a figura intermediária, o jornal tornar-se-á mídia para ninguém. Tiro no pé, ou melhor, na cabeça das bancas. Milhões e milhões em papel jogados no lixo sem mesmo terem sido sequer folheados ou remexidos. Um povo sem cultura e desprovido de saber. A volta dos jornais servindo apenas como papéis (anti)higiênicos e cobertores para moradores de rua; e baseado na releitura de uma sociedade, nem mesmo o cocô do cachorro da madame será digno para um jornal. Restará apenas a esperança acerca dos concursos públicos que ainda exigem diploma para o cargo de jornalista ou assessor de imprensa.

Imaginem o absurdo que teríamos se caso a tese do Ministro do Supremo Tribunal Federal se tornasse realidade. De acordo com ele, somente medicina, arquitetura e Direito (assim mesmo, apenas o Direito com letra maiúscula) devem ser exercidos apenas por graduados, pois o restante das profissões só trabalham diretamente com o intelecto. Pois bem, e o Direito, o que é, senão definições puramente do intelecto humano? A partir de agora, pois bem, vou começar a pedir a palavra em saraus dos grandes letrados da "Cadimia" Brasileira de Letras, definir novas regras de pontuação gráfica substituindo o acento agudo pelo smile depois da letra, darei entrevistas sobre a anatomia da espécie do tubarão milenar que vive nas profundezas do mar sem mesmo ter que pesquisar uma única linha sobre o assunto. Escreverei notícias sem o tradicional lead, cuspirei banalismos sobre a perda de razão pra ver no que é que dá. Serei um filósofo maldito, daqueles que
mostram apenas as possibilidades pessimistas para as piores realidades possíveis. Provarei por A mais B que um mais um é sempre mais que dois, concordando com o matemático Beto Guedes e contrariando a lógica. Projetarei prédios com base nos conhecimentos adquiridos através do software The Sims e entregarei na mão de um amigo arquiteto qualquer para assinatura e construção (que a Justiça, a partir de agora, também absolva o falecido Sérgio Naia). Registrarei a História da Era Pós-Pós-Moderna e poderei me tornar o único poderoso a deter o saber sobre a realidade atual. Valorizarei geografias e geologias mortas. Provocarei uma inquisição aos livros de Freud e Lacan, e abrirei um consultório com divã para novas experimentações baseadas em choques elétricos e tratamento de pacientes femininas à base do tamborzão do MC Créu. Plagiarei Karl Marx e me intitularei doutor em sociologia (com letra minúscula mesmo). Serei crítico de
arte, e começarei olhando diretamente para o artista para ver se Deus o fez com uma cara aceitável para o meu gosto (somente elogiarei diretamente as esculturas de gravetos feitas com massinha). Começarei a enviar currículos para diversos cargos: major da polícia, engenheiro elétrico, cadete do ar, chefe de cozinha (e eu nem sei cozinhar), químico industrial, programador visual, controlador de vôo, presidente da Google Brasil, mastro da Orquestra Sinfônica, agente de turismo, domador de leões, cardeal-arcebispo, administrador de shopping center, professor de qualquer-coisa- que-apareç a-para-lecionar (com experiência comprovada em quatro cadeiras distintas), dentista/odontó logo, diplomata, reitor de universidade e, principalmente, Ministro das Comunicações ou mesmo do Supremo Tribunal Federal. Tudo isso, somente com um diploma de tecnólogo em webdesign, e cantando o refrão de um grande sucesso de Raul Seixas: “eu sou... a mosca na
sopa...”

Continuo depois.

BERNARDO CAHUÊ*. Publicado no blog http://vagaspassage ns.blogspot. com

*Estudante de Comunicação Social.

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